O urbanista Alberto Lopes participou do programa Cidades e Soluções, da GloboNews, ao vivo, no dia 18 de fevereiro, sobre o tema “Como gerenciar riscos e prevenir tragédias?”. O programa é apresentado pelo jornalista André Trigueiro e teve também a participação do especialista em análise de riscos e planejamento de emergências, Moacyr Duarte.
O programa teve como argumento um levantamento feito pelo jornal O Globo que mostrou que, em 12 anos, cerca de 1.700 pessoas morreram no Brasil em acidentes que poderiam ter sido evitados ou atenuados se houvesse uma política de prevenção executada. A discussão com os convidados iniciou-se com questionamento sobre os motivos pelos quais o país não aprende com as tragédias, uma vez que se volta a discutir assuntos que já foram mencionados, diagnosticados e que remetem a desastres evitáveis. Sobre isso, Alberto comentou que essa “cultura da gambiarra”, mencionada pelo apresentador do programa, é a de um país que aceita acumular passivos: “Varremos para debaixo do tapete, deixamos para amanhã, preferimos gastar na emergência do que na prevenção”, enfatizou.
Ao longo do programa, falou-se sobre corrupção e impunidade, que faz com que se continue praticando uma política não-preventiva com relação a desastres e crimes ambientais. Sobre isso, o urbanista do IBAM comentou que, além da impunidade, falta uma cultura gerencial para prevenir acidentes e desastres no Brasil: “Primeiro, é preciso entender o papel do Estado neste cenário, que deveria proteger os mais vulneráveis, mas não é isto que está acontecendo, tendo em vista esses desastres que vêm ocorrendo. A cultura da gestão pública precisa melhorar, pois são poucas as cidades brasileiras que conseguiram desenvolver capacidade de gestão para se antecipar a fenômenos como esses”, explicou.
Além disso, foi mencionada a maior tragédia climática da história do país, que aconteceu em janeiro de 2011, na Região Serrana do Rio de Janeiro, com 918 mortos e 30 mil desabrigados. Sobre este assunto, André Trigueiro comentou que isso se deveu também, entre outros fatores, à ocupação de áreas de risco por milhares de famílias que não têm moradia digna e questionou os motivos pelos quais existem tantas pessoas vivendo desta forma no país. Alberto respondeu que há uma dissociação entre o perfil da demanda por habitação e o perfil da oferta por habitação no país: “Se produz muito mais habitação no Brasil para quem não precisa de moradia. São pessoas que já têm moradia e querem comprar uma segunda ou investir, por exemplo, em comparação com quem precisa e que está fora do mercado porque não têm acesso a nenhuma oferta habitacional e isso, obviamente, irá se refletir nessas ocupações irregulares”, disse.
No programa, também foi mencionada a tragédia recente no Centro de Treinamento do Flamengo, no Rio de Janeiro, que deixou 10 mortos e 3 feridos, e trouxe à tona uma questão recorrente que é a liberação do funcionamento de atividades em lugares sem alvará. O incêndio que aconteceu há 6 anos na Boate Kiss (RS), com 242 mortos e mais de 600 feridos também foi mencionado.
Sobre essa questão, Alberto chamou a atenção para a necessidade de se melhorar a formação técnica de servidores públicos, até mesmo do gestor que tem poder de decisão: “Existem muitos Prefeitos, secretários e técnicos bem qualificados no país, mas acho que ainda existe um déficit de formação muito grande, apesar de termos um sistema de escolas de Governo, com destaque, na esfera federal, para a Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), que já vem formando também servidores municipais. Na minha opinião, sobretudo os estados federados, têm um papel ainda distorcido na federação brasileira porque deveriam ajudar mais os Municípios na formação de quadros, na preparação de todo esse instrumental de ação e também na transformação do que foi chamado de “cultura da gambiarra” no Brasil, que passa também pela formação do gestor público”, concluiu.
Crédito da imagem: Twitter do programa Cidades e Soluções